Baixa tolerância à frustração

Vou começar por definir frustração, do dicionário Priberam

frus·tra·ção


(latim frustratio-onis)
nome feminino

1. Acto ou efeito de frustrar.

2. Sentimento de insatisfação ou de contrariedadegeralmente causado pela não concretização de um desejode uma expectativade uma necessidade ou de um objectivo. = DECEPÇÃODESALENTODESAPONTAMENTOIRRITAÇÃOMALOGRO ≠ EXULTAÇÃOREGOZIJOSATISFAÇÃO

3. [Psicanálise]  Condição emocional alterada de quem  contrariada a satisfação de um desejo pulsionalde uma actividade satisfatória.


"frustração", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/frustra%C3%A7%C3%A3o [consultado em 01-06-2022].

Mas que merda é esta?

Descobri, pela minha psicóloga, porque foi ela quem referiu as seguintes palavras "baixa tolerância à frustração", que eu tenho de facto isso, baixa tolerância à frustração.

Ela referiu de relance, bem no início, uma única vez, mas aquilo ficou-me a martelar no cérebro.

Bom, eu sei o que significa frustração. Aliás, pensava eu que pensava que sabia o que significava frustração.

Entretanto, por causa da minha bebé, comecei a ouvir e a ler novas formas de educar/orientar um bebé/criança, a questão das birras, a questão da auto-estima e a questão de ficarem frustradas e, que por causa disso, lá virem as tais birras.

Comecei a pensar "o que raio então é a frustração?"

Pensemos na frustração em relação às crianças.

Ok, posso ajudar a criança nas birras percebendo a emoção/sentimento por detrás do comportamento, não ignorar, envolver, dizer que percebo que ela se sente de determinada maneira, dar um abraço para que ela se sinta protegida, amada, mesmo tendo um mau dia, um mau comportamento e, só depois, quando está calma é que vou tentar perceber porque é que ela se comportou assim e pensar em alternativas para que não se volte a repetir.

Posso dizer, por exemplo, "eu percebo que estejas frustrada/irritada/amargurada/com raiva/com ódio por não poderes brincar com aquele brinquedo, mas agora a mãe precisa de fazer o resto das compras".

Claro que a birra não vai terminar, vai chorar e berrar, bater o pé. Como já lhe expliquei, dou-lhe o abraço e envolvo-a para saber que continua a ser amada mesmo tendo aquela atitude.

Dizem-me que faço mal, mas quer eu a abrace e diga que a ame quer eu a repreenda veementemente, a birra não vai parar, o choro e a gritaria não vão parar, então entre a minha calma e paz de espírito ou ficarmos todos lixados e emburrados uns com os outros e com castigos que não ensinam nada a não ser que as crianças estão sozinhas e desamparadas quando elas mais precisam, mais vale a primeira hipótese: amor, carinho no meio do stress. A birra há-de passar e a criança saberá que poderá contar sempre comigo. A isto se chama amor incondicional. Quer faça bem quer faça mal, eu não a vou deixar de a amar, e vou-lhe dizer para que ela não tenha dúvidas e não pense que não é amada só porque fez um erro.

Quantas vezes nós adultos nos fartamos de errar e só desejamos uma mão amiga, um ombro onde chorar e que nos diga que vai passar, que vamos ter mais oportunidades de acertar? Porque não fazer isso com as crianças?

Porque é que temos empatia com adultos e proibimos a empatia com as crianças? Porque é que eu não posso ter empatia por aquilo que a criança está a sentir?

Porque é que um adulto que chora vamos lá dar um abraço e uma criança que chora, negamos ou ainda dizemos: "ou páras de chorar ou então vou-te dar mesmo motivos para chorar?". 

Por um acaso dizemos isso a um adulto? Não, não dizemos. E não dizemos porque temos medo de sermos rejeitados e abandonados. 

Pois, mas a uma criança dizemos porque não temos esse medo do abandono, porque a criança nunca nos vai abandonar, ela depende de nós, ela ama-nos por mais que a repreendamos, mas é desta nossa atitude que ajudamos uma criança a tornar-se um adulto com medo da rejeição e abandono. E o ciclo não pára.

Dizem que a criança tem de saber lidar com a frustração, mas de facto ela lida constantemente com a frustração, não é preciso expô-la a mais situações de frustração de forma consciente. Ela passa a vida a ficar frustrada: ora porque não pode brincar quando quer, não pode deixar de dormir a sesta, não pode ter aquele brinquedo.

Não pode nada, na verdade, é triste ser criança, pensando no que ela passa.

Mas é aqui onde quero chegar, não é preciso obrigar a criança a estar exposta à frustração, porque ela já lida com a frustração diariamente e tem de saber lidar com ela.

Agora, porque é que eu cresci como um adulto que tem baixa tolerância à frustração?

O que raio significa "baixa tolerância à frustração?"

Significa que eu não sei lidar com a frustração.

Quando as coisas não acontecem como quero, onde quero, o ter os planos de vida todos controladinhos e sair tudo ao lado... eu desisto, eu largo, não sei lidar, não sei aceitar, fico desanimada, desmotivada, depressiva, sem energia para continuar.

Não sei como lidar quando as coisas não correm como quero ou como gostaria que fossem. Também fico com raiva, só me apetece partir tudo, gritar com toda a gente, amuo, faço as tais "birras".

A minha questão final, e é onde mais preciso de trabalhar, é: como lido com a frustração?

Como posso verdadeiramente ajudar a minha bebé a saber lidar com a frustração se eu, a mãe, não sabe lidar, não sabe como ultrapassar?

Percebo agora que a génese dos meus problemas (pelo menos, neste momento) é pelo facto de nunca ter sabido lidar com a minha frustração e que isso levou a que a minha auto-estima andasse pelo esgoto desde sempre.

Quem me ajudou a perceber isso? A filha... 

Lá está, os filhos vêem mostrar o que os pais precisam de trabalhar obrigatoriamente. São o nosso espelho, "in your face".

Mas eu não quero que a minha bebé tenha baixa auto-estima, nem que não saiba lidar com a frustração. Não quero que ela seja um adulto como eu. Quero que ela tenha as suas próprias experiências e não que herde de mim estes padrões.

Eu preciso trabalhar o lidar com a frustração, para ter uma melhor auto-estima, se não por mim, pela minha bebé, para que não passe pelo que eu passei. Mas como faço isso?

Claro que a minha bebé vai lidar, e já lida, com todo o tipo de emoções. Obviamente que ela vai ficar triste, alegre, frustrada, contente, com raiva, em paz, com medo, com coragem. Quero que ela saiba lidar com todo o tipo de emoções, boas ou más, mas para isso eu não posso negar ou fingir que ela se sinta de determinada maneira, tenho de a abraçar e ajudar e reconhecer o que ela sente, mas queria que fosse de uma maneira verdadeira, ou seja, eu adulta saber lidar com estes sentimentos e, com isso, poder ajudá-la a ultrapassá-los também.

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