Julgamento
Ando a escrever muito e em todo o lado sobre a minha infância, o que me diziam ou não, o que gostava que me tivessem dito e não disseram, atitudes boas e principalmente más que tive de presenciar.
Partilho muitas stories sobre como educar os bebés/crianças (ou, pelo menos, a minha visão do que é educar/orientar).
Mas tudo isto também não é julgar?
Eu julgo os outros por julgarem. Apesar de termos ideias diferentes, isso não me faz ser igual a eles?
A minha (ainda) não aceitação do passado faz com que, mesmo querendo fazer de outro modo, acabe por ser igual a quem eu critico.
Tenho a sensação de que aquela máxima "como queres um resultado diferente se todas as tentativas são as mesmas" é semelhante ao "eu tento de modo diferente mas tenho um resultado igual ao de sempre".
De que vale tentar outra coisa se a base, a minha base, os meus princípios não foram limpos?
Parece que faço tudo de modo deturpado.
Quero fazer o bem, o melhor, ou o melhor que posso, mas não é de modo sincero. É como se eu quisesse provar a alguém de que sou melhor, que faço melhor (ser superior?).
É isso que quero mostrar para o meu bebé?
Não foi com esse exacto exemplo com que eu cresci? Ah e tal eu faço assim ou assado e os outros não! Ah e tal eu faço isto bem melhor que os outros! Xiiii olha como eles se comportam ou fazem XPTO! Não, nós somos melhores, nós fazemos ABC!
E eu cresci com o sentimento de que de facto éramos melhores, mas no interior, em criança, pensei que nunca iria alcançar o estado de perfeição que eles eram ou idealizavam.
E ficava cada vez mais acabrunhada, envergonhada, com culpa de não ser assim ou assado.
Sentia-me inferior.
E por isso revoltava-me. E a revolta fazia-se como? Com sentimentos de superioridade.
Contraditório, não é?
É esse sentimento que quero passar para o meu bebé?
De que ninguém se pode igualar a ele ou de ele nunca conseguirá atingir esse nível de perfeição?
Onde está a igualdade?
Onde está a compaixão?
Onde está a compassividade?
Onde está o "cada um faz o seu caminho o melhor que pode e ninguém tem nada a ver com isso"?
Onde está o "nós fazemos o melhor que podemos e sabemos e também ninguém tem nada a ver com isso"?
Temos de provar alguma coisa a alguém?
Onde está a aceitação? Por nós e pelos outros?
Não é isto também julgar?
Porque é que faço tanta questão de partilhar a minha forma de educar?
Porque é que faço tanta questão de dizer "olhem, isto é o que vocês deviam ter feito e não fizeram e agora olhem para mim: sou defeituosa"?
É a minha criança ferida, mas o passado não volta, posso ir curando, mas o caminho não é por aqui.
Não é instigando a culpa nos outros que me faz sentir melhor (na verdade, até faz, porque tenho a sensação de que essas pessoas não têm consciência do mal que fizeram). Mas de qualquer das formas também não é assim que elas aprendem e eu também assim não aprendo a aceitar... E a aceitar-me.
Não é isto também julgar?
Comentários
Enviar um comentário