Mães

Eu agora já percebo as mães.

Excepto a minha.

Ou, se calhar, incluindo a minha.

Ainda não compreendi muito bem porque é que eu consigo compreender tudo e todos (e agora também as mães) e não consigo aceitar/compreender/entender a minha mãe.

Talvez por ser demasiado próxima de mim?

Talvez por eu estar à espera de um amor idílico/ incondicional que nunca tive (ou, pelo menos, não tive essa percepção)?

Talvez por tê-la colocado num pedestal e eu estivesse sempre à espera que nunca falhasse, que fosse perfeita?

Mas eu sempre a vi imperfeita, com todos os seus defeitos e mais alguns.

Talvez estivesse à espera que, sendo minha mãe, fosse melhor que todas as outras?

Talvez por ela se achar a melhor mãe do mundo quando, para mim, estava muito longe disso?

Não sei responder. 

Esta questão terá de ficar para outras núpcias (sim, vou empurrar o problema com a barriga).


Onde eu queria chegar era:
Eu agora já percebo as mães.

Eu já entendia, mas agora é noutro nível.

Sempre achei que as mães só tinham 1 ou 2 temas de conversa, essencialmente só sabiam falar dos filhos.

Conversas profundas, conversas com outros sentidos e direcções não eram ali chamados.

E sempre pensei que quando fosse mãe queria muito mais do que falar só de filhos, não queria ser só mãe, uma pessoa não é só mãe, é uma pessoa. Ponto.

E eis que chego, sou mãe e as minha conversas são só sobre filhos. Ponto e vírgula.

E agora percebo porquê.

Porque não tenho vida para além dos filhos.

Pouco saio, pouco falo.

E o pouco que saio e o pouco que converso é sobre crianças.

Ah... E trabalho...

Falo de bebés e depois de trabalho.


Onde estão aquelas conversas profundas?
Sobre a vida, sobre o sentido da vida, sobre a espiritualidade, sobre Deus, sobre ciência, sobre tudo e sobre nada.

Onde estão aquelas discussões acessas em que todos discutem, falam uns por cima dos outros, todos teem a sua razão, a sua verdade, não se chega a lado nenhum mas que, no fim, até deixa a pensar?

Onde está o conhecimento? O auto-conhecimento? A sabedoria?

Onde está?

Não está.

Estou sozinha.

A falar sobre bebés para alguém que tenha paciência para me ouvir.

Comentários