Mundo externo vs. Mundo interno

O que é o melhor para mim?
O que é que eu gosto mais?
Do que é que eu gosto?

Viajar ou escrever?
Sair ou ficar em casa?
Liberdade em casa ou presa na rua?

Porque é que não posso gostar de ambos?

Porque é que eu tenho que gostar de algum?

Qual é que é aquele que é intrínseco a mim?

Gosto de estar no meu canto, no meu mundo, mas fizeram-me crer que é melhor viajar, sair, estar na rua?

Penso que sim.

E penso que não.

E gosto de estar no meu mundo porque eu quero ou é porque me faz sentir confortável?

Lembro-me de quando era miúda querer sair mas tinha medo, ficava um pouco na rua mas queria regressar com medo que alguma coisa má me pudesse acontecer.

Recordo-me deste medo, de querer voltar para casa porque assim estaria protegida pelos meus pais.

Depois dizia que era mais caseira, que não me apetecia sair, só que no fundo, no fundo, tinha medo de sair sem os meus pais.

Tenho a sensação de que antes da primária era uma miúda destemida, que corria, que se aventurava, que mexia em tudo, curiosa com tudo.

Mas o medo foi entrando.

Eu fui ouvindo.

Foi-se entranhando.

Fui-me entrelaçando nele.


Mas, e afinal, será que gosto é de estar na rua, no mundo lá fora, só que fizeram-me crer que é melhor estar em casa, na segurança do lar, num mundinho pequenino?

Do que é que eu gosto?

Tenho mesmo de responder hoje?

Não dá para responder mediante os dias, conforme me dá mais jeito?

Gostar de sair ou ficar em casa?

Estas duas opções são perfeitas para definir (ou não definir) toda a minha vida até aqui.

Não sei do que gosto.

Não sei se o que gosto é porque eu gosto realmente ou se me foi imposto ao longo do tempo.

Nem sequer sei muito bem dizer do que não gosto.

Porque o que não gosto hoje posso gostar amanhã.

Buscando um exemplo simples: ovos cozidos, manteiga de amendoim e batata doce.

Não gostava, nunca tinha provado mas o aspecto era manhoso ou tinha provado e não tinha gostado (não me lembro).

Um belo dia, pela força das circunstâncias, porque não havia mais nada para comer, experimentei.

Gostei.

Porra, gostei.

Como passei tanto tempo sem provar isto, que esta cena até é boa?

Aqui, provei, experimentei, sozinha, sem influências, sem opiniões, sem pedidos de aprovação alheia.

Eu, sozinha, no meu pequeno mundo, experimentei e gostei.

Posso dizer, sem sombra de dúvida e sem medo de desiludir ninguém: gosto de ovos cozidos, de manteiga de amendoim e de batata doce.

Porque é que a vida não é tão simples como saber se gosto ou não de ovos cozidos, de manteiga de amendoim e de batata doce?

Porque é que eu não consigo travar o meu cérebro no preciso momento em que vou experimentar algo?

 A mente vem logo:
"e se os outros não gostarem?" 
"os outros?"
"o que é que os outros acham?"
"pede opinião aos outros"
"és a única que gosta dessa cena esquisita?" "Pergunta, vá, pergunta lá"

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