Raiva

Raiva.

É o que sinto em relação à minha mãe.

Triste? Sim.

Mas é o que sinto.

Pensei (pensei?) que com a maternidade me fizesse sentir mais ligada à minha mãe.

Não o sinto.

Rejeito.

Rejeito-a.

Ajuda-me? Sim.

Com o melhor que sabe e pode? Também sim.

Mas há todo um interior que acha que por mais que faça nunca me irá suprir ou nutrir.

Parece que me está constantemente a dever.

A dever o quê? Do quê?

De me ter roubado uma infância calma, serena... Uma infância... só uma infância.

Há alguma coisa que possa fazer hoje para colmatar todo um passado?

Talvez... Pedir-me desculpa ou perdão por tudo o que nos fez passar? Me fez passar?

Mas um pedido de desculpas sincero, não um "desculpa lá qualquer coisa", um pedido de desculpas por descargo de consciência, um sacodir a água do capote.

Mas não, ela está sempre certa, ela fez tudo bem, ela é a maior.

E a verdade é essa mesma, ela fez de facto o melhor que pôde na altura com aquilo que sabia.

Eu é que ainda não aceitei.

Parece que a quero a ver-se a ser humilhada à minha frente como um mendigo em frente a um rei.

Não quero (ou quero?)

Mas foi isso que eu sempre senti na presença dela.

Um mendigo sempre a pedir amor, aprovação, a pedir aceitação por aquilo que eu era e não por aquilo que ela queria que eu fosse.

Só depende de mim limpar isto.

Com tempo.

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