Liberdade e Feminilidade

Era livre e não sabia.

Até ter filhos tinha liberdade e não sabia.

Sabia que a tinha, sabia que a podia usar mas não a sabia verdadeiramente.

Há quem ache que ter filhos é libertador.

Há quem ache que por ter filhos não tem de abdicar de nada.

Há quem ache que mesmo com filhos se pode fazer tudo.

Eu não acho.

Eu não aceito.

Estou a resistir muito a isto.

Sinto revolta.

Sinto-me presa.

Mesmo podendo fazer coisas sinto-me presa.

Pensamentos constantes na criança.

Tudo é a criança.

Todos os temas são sobre ela.

Há mães que aceitam (ou se resignam?) que são só mães.

Eu consigo aceitar que sou mãe, não consigo aceitar ser só mãe, mas quando faço algo extra-mãe não consigo, ou não tenho forças, ou não me apetece, ou faço com esforço e sem vontade.

Arrasto-me pela vida.

Arrasto-me a reboque da criança.

Nem sequer sei explicar esta não vontade de nada.

Quando fiz a minha primeira leitura de aura, o meu espírito disse-me que vim a esta vida aprender a ser livre como mulher e a ser mulher.

Aprender sobre a liberdade e a feminilidade.

Depois disso comecei a estudar sobre o que era ser mulher ou ser feminina ou ser mais feminina.

Isto porque era (sou?) Maria-Rapaz, sempre achei que a vida dos homens era mais fácil e nunca gostei de ser rapariga/mulher.

Não senti que fosse o vestir, talvez fosse dançar... Não sei, sei que é algo mais profundo que ainda não captei. 

O que é isto de ser feminina?

O que raio tenho de aprender para chegar ao profundo da feminilidade?

Isto para chegar onde? À liberdade.

Foi preciso ser mãe, foi preciso chegar quase aos 40 anos para sentir que não tenho liberdade, mas que quando tenho não sei o que fazer com ela.

A criança prende-me mas até a criança é uma desculpa para me sentir presa porque não sei o que fazer com a liberdade.

O que me frustra é que tenho de esperar uma data de anos até a criança crescer e ter uma nova oportunidade de aproveitar.

E se isso também é uma desculpa? Chego lá, daqui a uns anos, e não faço nada à mesma.

Lá vou com a mesma conversa: já sou velha, já não tenho forças, não tenho vontade, não é com esta idade que vou fazer isto.

Mais uma vida a  passar a vida a lamentar-me.

Mais uma vida desperdiçada.

Comentários