Perfeita
O que é que eu pretendo ao escrever isto tudo?
Pretendo limpar, melhorar, não repetir padrões, não passar para as gerações seguintes toda esta história, todos os estes padrões.
Não quero passar para o meu bebé o que passei, quero que tenha a sua própria história sem que de mim dependa, sem que leve com esta bagagem, quero que tenha a sua própria bagagem.
Não quero que tenha este peso às costas.
Pretendo ser perfeita?
Se eu limpar isto tudo o meu bebé vê-me como perfeita?
A mãe perfeita.
Tudo aquilo que a minha mãe não foi para mim.
Limpar toda a minha negatividade para que sejam só rosas?
Isso é impossível.
Quero que o meu bebé me veja só positiva?
Isso não é algo inalcançável?
Será que o meu bebé ao ver que tento ser perfeita ele se sinta como eu me senti em relação à minha mãe?
Sentia-me inferior, ou ela fazia-me sentir, consciente ou inconscientemente, inferior.
Tudo o que ela fazia era bom ou melhor do que os outros.
Não é isso também que lhe estou a transmitir?
Eu não quero que se sinta inferior, quero que sinta que sou um exemplo.
Não foi isso que a minha mãe tentou incutir?
Mas porque é que eu acho que tudo o que ela fez e faz é negativo?
Se ela sempre quis o melhor para mim porque é que eu não sinto isso?
Neste momento, sinto às vezes que sou melhor mãe do que os outros.
O que não é rigorosamente verdade, a maior parte das vezes sinto-me a pior mãe do mundo, que faço o pior do mundo, que não faço o melhor, que os outros fazem um melhor trabalho.
Mas por outro lado, ao querer limpar isto tudo, ao querer trabalhar em demasia sobre tudo o que sou ou não sou, sinto também que sou melhor do que as outras mães.
Ninguém trabalha mais a sua espiritualidade do que eu, ninguém trabalha mais os seus padrões do que eu, ninguém tem mais consciência dos seus defeitos do que eu e, por isso, eu sou melhor porque estou a trabalhar em dobro para que o meu bebé não sofra o que sofri.
Só que durante este processo o meu bebé fica doente.
Durante este processo o meu bebé está a repetir o meu padrão.
Fica doente quando estou mal e depois de estar mal, nós pais, ficamos bem.
Tanto trabalho e o meu bebé tão pequenino já está a repetir o meu padrão.
Tanto trabalho e não estou a fazer um bom trabalho, aliás, estou a fazer um péssimo trabalho.
Por causa disso, ele obriga-me, mesmo que eu não sinta, a estar bem fisica, mental e emocionalmente.
Isto é uma pescadinha de rabo na boca.
Eu não estou bem, não me sinto bem, sinto-me cansada, sem vida, sem ânimo, sem energia, sem forças e, com isso, o meu bebé somatiza o que sinto com doenças físicas.
Para que o meu bebé se sinta bem é preciso que eu me sinta bem.
Por isso tenho de me obrigar a estar bem mesmo que não o sinta.
Eu não quero ser responsável pelas doenças do meu bebé.
Não quero ter mais essa culpa em cima.
Mas tenho.
Porque é que eu sinto esse peso da responsabilidade em cima?
Porque é que tenho de ser perfeita?
Continuação da pescadinha:
Quanto menos energia mais doença, mas eu tenho menos energia porque estou a fazer um esforço sobre-humano para me trabalhar, para ter consciência dos meus erros e melhorar e estou a escavar um poço cada vez mais fundo, porque maior o esforço menor é a energia.
Se eu tirar esse peso.
Se eu não trabalhar.
Não consigo desligar, não consigo fazer um reset (ter uma vida é um trabalho para a vida) mas se diminuir a carga talvez consigo aumentar a energia e a fazer com que o meu bebé se sinta melhor.
Se eu não trabalhar tanto em mim, não penso tanto, descanse (talvez) mentalmente mais e talvez me sinta melhor.
Mamã bem bebé bem.
Agora, como é que eu não trabalho?
Como e que eu não faço nada?
Como é que eu deixo ir?
Comentários
Enviar um comentário