A tua cara
Ainda passou tão pouco tempo e já não me lembro da tua cara de quando nasceste.
Já não me lembro da tua cara dos primeiros meses.
Quando penso em ti, penso na tua cara de agora naquela altura.
Tento lembrar-me, imaginar-te, mas fica desfocado.
Para me lembrar de ti tenho de ir ver as tuas fotografias.
E quando olho para elas, parece que já foi há uma eternidade.
Desde que me lembro de pensar sobre caras (talvez desde o 6.ano que penso nisto), que chego sempre à mesma conclusão:
Eu não me lembro das caras de quem gosto muito.
Quando gostava de um rapaz, deixava de me lembrar da cara dele. Quando penso nos meus pais, tenho dificuldade em recordar a cara deles.
Quando são pessoas conhecidas ou que tenho pouco contacto, é-me fácil recordar, mas de quem gosto mesmo...
Até do meu companheiro, faço um esforço e parece que me esqueço sempre de algum pormenor.
Porque é que me esqueço das vossas caras?
Por mais que eu olhe, por mais que fique atenta, fica turvo.
Eu não devia esquecer-me da tua cara.
Devia estar gravada na minha alma.
Tenho medo de me esquecer de ti.
Perder-me de ti.
Queria lembrar-me de todos os teus pormenores, todas as tuas nuances, todos os teus trejeitos.
Por isso é que eu tiro imensas fotos tuas.
E mesmo assim parece que me esqueço de tudo.
Tenho de tirar mais fotos para não me esquecer de nada.
Maldita memória do pós-parto.
Relativiza o que foi traumático mas relativiza tudo o resto também.
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