Epifania #1

Tudo me sabe a pouco.

Estava à espera de grandiosidade, de fazer grandes coisas, começar a agir, abrir-me ao mundo.

Tudo me sabe a pouco.

Escrevo para mim mas à espera que me leiam e me achem espectacular.

E, na verdade, acho que tudo isto é muito poucochinho.

Já que eu não me reconheço, já que a minha família não me reconhece, já que os meus não me reconhecem, estou à espera que desconhecidos me reconheçam.

Validação.

Foi desde que descobri que tenho valor, há cerca de três anos, que me senti invisível, desconhecida, não reconhecida, não valorizada.

Desde sempre que me senti não reconhecida ou valorizada, mas desde esse empoderamento que me senti invisível.

Quando percebi que tinha valor por mim própria, comigo própria, foi quando poderia ter dado um basta no que os outros pensavam sobre mim mas o que aconteceu foi precisamente o oposto.

Soube do meu valor, podia me bastar, podia bastar-me, e senti que deveria ser ainda mais reconhecida por isso.

Senti que deveria ser ainda mais valorizada por eu descobrir que não precisava da valorização alheia, que só precisava de mim, da minha valorização pessoal.

Não é um contra-senso?

Descobri que não preciso dos outros para me dar valor e é quando mais preciso da valorização dos outros?

Mas isso faz algum sentido?

Tive medo do meu empoderamento e reduzi-me.

Tive medo de perceber que até tenho valor e sentir-me sozinha.

Quando percebemos que não precisamos de ninguém para nos valer, torna-se um lugar muito vazio.

Pelos vistos, só eu não me basto.

Estou a dizer que eu sozinha num espaço, estou a dizer que o espaço é vazio, que eu sou um vazio, que preciso de outros para preencherem o meu lugar, o meu tempo, o meu espaço, o eu, Eu.

Mas porque é que eu tenho de me sentir invisível se eu até tenho valor.

Todo o mundo à minha volta espelhou o que eu sentia, o que eu sinto, que se eu sozinha me basto, não preciso de mais ninguém no mundo.

Mas isso não é verdade.

Eu posso-me sentir valorizada por mim própria, posso-me bastar e posso estar com o mundo, só não preciso do mundo para sentir que sou eu.

Posso ser o azeite na água, viver em comunidade mas não deixar que interfiram com o meu interior, não tenho de ser o corante na água que se dilui e deixa de ser o indivíduo.

Comentários