Gatilhos do feminino
Duas questões que preciso trabalhar, as chamadas "Crenças":
1) Achar que os filhos são impedimento para fazer o que quer que seja.
Eu deixo de ser eu porque tenho de passar a tomar conta dos filhos.
Eu deixo de existir porque tudo agora é para os filhos.
Eu posso ter tempo para mim desde que eles estejam em primeiro lugar.
Eu posso ter tempo para mim desde que esteja sozinha e não interfira com ninguém ou não interfira com os tempos de ninguém.
2) Eu tenho de parar a minha vida em prol de um relacionamento.
O facto de ter um relacionamento não me impede de fazer o que me apetece, só me impede se a vontade do outro se sobrepuser à minha.
Eu posso fazer o que quiser se estiver sozinha, se estiver com o meu companheiro eu tenho de parar o que tenho para lhe fazer companhia.
Eu tenho liberdade para fazer o que quiser, desde que esteja sozinha, se tiver com a outra pessoa ou com os filhos já não posso fazer.
Questãozinha:
Neste momento estou em casa, sem "trabalho" fixo das 9h às 18h.
O bebé agora está na creche.
Portanto, em teoria sou livre para fazer o que quiser do meu tempo.
A questão é:
Porque é que eu tenho a sensação de que tenho de ocupar o meu tempo com aquilo que os outros acham que eu devo ocupar o meu tempo?
Porque é que eu tenho pesos na consciência por estar a disfrutar do meu tempo só comigo e o meu bebé estar na creche?
Porque é que eu tenho pesos na consciência de que se eu estou em casa sem fazer nada então o meu bebé também deveria estar em casa?
Porque é que eu sinto culpa por estar em casa sem fazer nada, a fazer o nada, só a estar? E que, por causa disso, ponho-me a inventar coisas para fazer só para dizer que estive a fazer coisas, só para dizer que estive a ocupar o meu tempo?
Desde há dois anos para cá que o universo me obriga a parar e eu invento sempre porcarias para fazer.
Hoje é o primeiro dia oficial mais longo sem o bebé e eu já tenho a cabeça a mil a pensar nos cursos que fiz, nos que comecei e não terminei, nas consultas que tenho de fazer, nas terapias que tenho de dar.
Fisicamente posso não estar a fazer nada, mas a cabeça já está outra vez nos píncaros do trabalho.
Ninguém pára a vida por ninguém e eu tenho de parar?
Ou aliás, posso parar desde que não interfira com os planos dos outros?
E porque é que eu não viro a página e mudo?
Porque é que não faço diferente?
Porque isto está tão enraizado em mim, eu vi tanto disto em miúda com a minha mãe, que agora não consigo mudar sozinha.
A minha mãe parou a vida dela por causa dos filhos e do marido.
Ela fazia as suas coisinhas mas assim que o marido chegava a casa ela parava a vida dela.
Eu sempre me senti um empecilho na vida da minha mãe.
Por mais que ela negasse, ela parou a vida dela por causa da família.
E eu estou-me a tornar naquilo que eu disse que nunca me iria tornar:
Estou-me a tornar na minha mãe.
A parar a minha vida em função dos outros.
Depois os outros vão-se embora e onde é que eu fico?
Sozinha.
Estou a repetir o padrão da minha mãe inconscientemente. Agora em consciência tenho de mudar isso.
Não quero que o meu bebé se sinta um empecilho, se sinta que está a mais na minha vida.
Até porque não está. Eu quis ter filhos. Ponto. Logo, não é um empecilho.
Sou eu que tenho de trabalhar este tempo que tenho para mim sem culpas.
Quero estar num relacionamento que seja 50/50.
Eu não quero ter parar a minha vida, não quero viver em função do outro, porque o outro também não pára a vida dele. E nem tem de o fazer.
Eu não posso culpar o meu bebé por não fazer o que quero e gosto e eu também não posso culpar o meu companheiro por ele não parar a vida dele para viver em minha função.
Em consciência, é estúpido que assim seja.
Em consciência, em homenagem a estes 2 anos de imenso trabalho mental e nenhum físico, vou parar.
VOU PARAR.
Vou parar 2 semanas o máximo de minutos que conseguir, a fazer o nada.
Não é o no telemóvel, não é na televisão, não é nas minhas cartas ou oráculos, não é a meditar.
NADA.
VOU SÓ ESTAR.
VOU SÓ SER.
VOU SÓ EXISTIR.
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