Regredi
Sinto que regredi nos relacionamentos.
Desde que pari que regredi.
O pouco que tinha caminhado com o meu companheiro foi por água abaixo.
Até ele ter chegado eu tinha imenso complexos.
Passava a vida a dizer que não sabia beijar.
Não sabia estar.
Não tinha experiência.
Odiava que me tocassem.
Eu nunca tocava em ninguém, não sabia tocar.
O máximo que conseguia tocar era em forma de bater, bater no ombro, bater nas costas, tipo os homens "dá cá esse bacalhau!".
Não dizia isto, mas era este o sentido.
E desde que estou com o meu companheiro que isso melhorou.
Claro que ele se queixou sempre de que eu não tocava muito ou não tinha muita iniciativa, mas até que fazia qualquer coisa.
E, para mim, "qualquer coisa" já era um mundo.
Sempre me achei esquisita, nunca soube muito bem o que fazer com as mãos.
Um simples dar festas, carinhos era esquisito. Não sabia dar.
Não sabia se era assim, se era com muita força ou suave demais.
Não sabia e, por isso, pouco fazia.
Desde a minha infância que os toques eram mínimos.
O meu pai dava-nos um beijinho de manhã quando saía para trabalhar e depois quando regressava do trabalho.
A minha mãe só nos dava, junto com o meu pai, um beijinho ao deitar.
Estes 3 conjuntos de beijinhos eram sagrados.
E ainda hoje assim é.
Os abraços só foram implementados por mim, mais tarde, talvez na época da faculdade, e eram o que eu chamava "os abraços de grupo".
Por isso, toques em casa eram mínimos.
Mas acho que na verdade isso não é grande desculpa, uma vez que isso era o apanágio daquela geração, eu é que levei isso muito a peito.
Só que desde que pari, que regredi completamente.
Todos os toques são para o bebé.
Foram totalmente transferidos para o bebé.
Tudo para o bebé.
Não consigo, acho esquisito, não tenho vontade de tocar no meu companheiro, nem aqueles bater no ombro.
Não sinto vontade de tocar em ninguém.
É tudo para o bebé.
Sinto que o parto foi tão traumático para mim que o tocarem em mim ou eu tocar em alguém faz-me querer (ou não) engravidar e não quero passar por aquilo outra vez.
Não quero voltar àquela experiência então não quero que me toquem porque pode implicar ter sexo, por consequência, engravidar, por conseguinte, parir.
Faz sentido?
Não.
Mas enraizei o toque como algo que me levou a uma má experiência.
E agora, como limpo isto?
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