20 meses depois

20 meses depois, a minha alma está no quarto ao lado.

9 meses unidos, num só.
6 meses unidos, como siameses.
5 meses unidos, a um pé de distância.

Que viagem.
Que eternidade.

Esperei por este momento.
Tive medo deste momento.

E se não te desses bem?
E se eu me sentisse demasiado feliz por estarmos separados?
E se acordasses 1000 vezes e eu 1000 vezes mal humorada sair do meu quarto para te acolher?

Tive medo por este dia.
Queria que chegasse.
Queria que não chegasse.

Todos os meses uma desculpa:
Ainda não dorme bem
Acorda muita vez
Altura da introdução alimentar 
Ainda não é a altura
Época de férias 
Ansiedade de separação
Depois creche
Ele não se vai dar bem

E hoje foi o dia.

Hoje, foi o dia.

Hoje sinto o silêncio.

Dentro de mim.
Fora de mim.

Nestes dias tenho pensado em como tenho pena de não te ver a adormecer.
Adormeço-te sempre no escuro, com medo que acordes.
Toco-te o mínimo para que não acordes.
O mínimo de luz até à tua caminha.
E tenho pena de não te ver a adormecer.

Nos dias mais antigos, adormecias ao colo mas com a cara virada para lá, por isso, também não te conseguia ver.

Nestes últimos dias, nas sestas, tens-me permitido esse privilégio.

Ver-te adormecer.

E é tão bonito.

És tão bonito, bebé.

Eu vejo-te e não me demoro, para não acordares.

Mas vejo-te.


E hoje, vi-te a adormecer.

Estás no quarto ao lado.

Amanhã, na casa ao lado.

Depois, no mundo ao lado.

Hoje, 20 meses depois, a minha alma está no quarto ao lado.

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