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A mostrar mensagens de setembro, 2022

Espaço

É tão estranho estar dos dois lados da barricada. Ver os dois lados da moeda. Perceber que sou uma cara e uma coroa. Quando era miúda, passava muito tempo em casa com os meus pais, principalmente com a minha mãe. (Eu passava o dia todo com a minha mãe). Recordo-me de passar tanto tempo com eles que ficava farta deles. (Ainda hoje é assim, diga-se de passagem, consigo estar curtos espaços de tempo com eles, eles são muito intensos). A minha única hora de liberdade era quando eles iam ao Continente. Levavam o meu irmão, ele trazia sempre um brinquedo qualquer para ele, e para mim nada (mas isso é outra história), e eu ficava sozinha. Sozinha em casa. A liberdade. Punha música, via televisão. Não que houvesse muito para fazer, mas estava livre de pessoas. O silêncio. Claro que era miúda adolescente e passado umas 2h já me começava a doer a barriga dos nervos pelo facto deles nunca mais chegarem a casa. E hoje com o meu bebé tenho dificuldade em deixá-lo muito tempo sozinho. Quero e não qu...

Estrela Polar

És a minha lua. És o meu sol. És o meu norte. És a minha bússola. És o meu guia. És o meu caminho. És tu que me dizes o que preciso curar. Tudo aquilo que eu sempre evitei, tu estás aqui para me forçar a trabalhar. A trabalhar-me a mim. A trabalhar os meus traumas. A trabalhar a minha infância. A trabalhar o meu bebé interior. A trabalhar a minha criança interior. A trabalhar o perdão. A trabalhar a gratidão. A trabalhar a culpa. A trabalhar o medo. A trabalhar a vergonha. A trabalhar o abandono. Não é tua responsabilidade. Não quero que tenhas este peso às costas. Eu sou a mãe. Tu és o bebé. E não o contrário. Mas és tu que me tens tanto a ensinar e mostrar. E ainda nem falas. És tu que me mostras o caminho da cura para que tu não passes pelo mesmo. Cura de padrões. Cura do passado.

Vista

Há meio ano que tenho uma vista magnífica mas não consigo ver. Olho mas não vejo. Não vejo o céu. Não vejo as nuvens. Não vejo as luzes. Não vejo o rio. Não vejo os aviões. Olho mas não vejo. Já tinha reparado, numa viagem que fizemos, que estava cega ao mundo exterior. Nunca está viagem tinha sido tão curta. Não vi as árvores. Não vi os montes. Não vi a serra. Não vi o rio. Não vi os caminhos. Tudo me passa ao lado.  mas não vejo. Não vejo profundidade. Não vejo significado. Não consigo só estar e ser. Se chove não posso ver a vista. Se está sol não consigo estar muito tempo porque está calor demais. Fere-me a vista. Mal tenho os olhos abertos. Talvez sejam desculpas. Podia sentir-me à janela mas ainda assim não vejo. Não sinto.

Regredi

Sinto que regredi nos relacionamentos. Desde que pari que regredi. O pouco que tinha caminhado com o meu companheiro foi por água abaixo. Até ele ter chegado eu tinha imenso complexos. Passava a vida a dizer que não sabia beijar. Não sabia estar. Não tinha experiência. Odiava que me tocassem. Eu nunca tocava em ninguém, não sabia tocar. O máximo que conseguia tocar era em forma de bater, bater no ombro, bater nas costas, tipo os homens "dá cá esse bacalhau!". Não dizia isto, mas era este o sentido. E desde que estou com o meu companheiro que isso melhorou. Claro que ele se queixou sempre de que eu não tocava muito ou não tinha muita iniciativa, mas até que fazia qualquer coisa. E, para mim, "qualquer coisa" já era um mundo. Sempre me achei esquisita, nunca soube muito bem o que fazer com as mãos. Um simples dar festas, carinhos era esquisito. Não sabia dar. Não sabia se era assim, se era com muita força ou suave demais. Não sabia e, por isso, pouco fazia. Desde a mi...

Gatilhos do feminino

 Duas questões que preciso trabalhar, as chamadas "Crenças": 1) Achar que os filhos são impedimento para fazer o que quer que seja. Eu deixo de ser eu porque tenho de passar a tomar conta dos filhos. Eu deixo de existir porque tudo agora é para os filhos. Eu posso ter tempo para mim desde que eles estejam em primeiro lugar. Eu posso ter tempo para mim desde que esteja sozinha e não interfira com ninguém ou não interfira com os tempos de ninguém. 2) Eu tenho de parar a minha vida em prol de um relacionamento. O facto de ter um relacionamento não me impede de fazer o que me apetece, só me impede se a vontade do outro se sobrepuser à minha. Eu posso fazer o que quiser se estiver sozinha, se estiver com o meu companheiro eu tenho de parar o que tenho para lhe fazer companhia. Eu tenho liberdade para fazer o que quiser, desde que esteja sozinha, se tiver com a outra pessoa ou com os filhos já não posso fazer. Questãozinha: Neste momento estou em casa, sem "trabalho" fixo...

Epifania #1

Tudo me sabe a pouco. Estava à espera de grandiosidade, de fazer grandes coisas, começar a agir, abrir-me ao mundo. Tudo me sabe a pouco. Escrevo para mim mas à espera que me leiam e me achem espectacular. E, na verdade, acho que tudo isto é muito poucochinho. Já que eu não me reconheço, já que a minha família não me reconhece, já que os meus não me reconhecem, estou à espera que desconhecidos me reconheçam. Validação. Foi desde que descobri que tenho valor, há cerca de três anos, que me senti invisível, desconhecida, não reconhecida, não valorizada. Desde sempre que me senti não reconhecida ou valorizada, mas desde esse empoderamento que me senti invisível. Quando percebi que tinha valor por mim própria, comigo própria, foi quando poderia ter dado um basta no que os outros pensavam sobre mim mas o que aconteceu foi precisamente o oposto. Soube do meu valor, podia me bastar, podia bastar-me, e senti que deveria ser ainda mais reconhecida por isso. Senti que deveria ser ainda mais valor...

Os porquês

Porque é que eu tenho de saber todos os porquês de todas as coisas? Porque é que não posso simplesmente aceitar e seguir com a vida? Porque tenho medo de voltar a errar. Mas eu trabalho imenso a saber todos os porquês de todas as coisas mas continuo a errar. Sim, errar faz parte da vida. Mas errar tanto? E aceitar o erro? Talvez não erre tanto se o aceitar. E qual é o problema de errar? Baralho e mando-me de novo à vida. Mas falta qualquer coisas. Sinto que falta aqui uma peça qualquer e não estou a conseguir descortinar. Se só simplesmente aceitar, sem resistir, será que vai mudar alguma coisa?

Reconhecer-te

Quando te fui buscar à creche tive um medo. Algo que nunca tinha sentido mas que tive a sensação de que esteve sempre cá dentro. "Será que te vou reconhecer no meio de tantos bebés?" Se vocês são todos iguais, como é que eu te vejo? Se eu não me lembro exactamente da tua cara, de todos os teus pormenores, será que eu vou saber que és tu quem vou trazer para casa? Sim, eu reconheci-te porque estavas virada para a porta. Olhaste para mim e parecíamos dois estranhos a olhar um para o outro. Será que me reconheceste? Foi necessário um segundo de reconhecimento de ambas as partes. Um segundo, não foi imediato. Não foi instantâneo. Não era suposto corrermos para os braços um do outro de tantas saudades que tínhamos? Sentiste saudades minhas? É triste dizer que eu não tive assim tantas saudades? Tenho tanta fome de liberdade, só que agora sinto-me no limbo. Quero ter as minhas actividades, não digo voltar ao que era porque já sei que é impossível, mas voltar a ter uma vida fora de f...

A tua cara

Ainda passou tão pouco tempo e já não me lembro da tua cara de quando nasceste. Já não me lembro da tua cara dos primeiros meses. Quando penso em ti, penso na tua cara de agora naquela altura. Tento lembrar-me, imaginar-te, mas fica desfocado. Para me lembrar de ti tenho de ir ver as tuas fotografias. E quando olho para elas, parece que já foi há uma eternidade. Desde que me lembro de pensar sobre caras (talvez desde o 6.ano que penso nisto), que chego sempre à mesma conclusão: Eu não me lembro das caras de quem gosto muito. Quando gostava de um rapaz, deixava de me lembrar da cara dele. Quando penso nos meus pais, tenho dificuldade em recordar a cara deles. Quando são pessoas conhecidas ou que tenho pouco contacto, é-me fácil recordar, mas de quem gosto mesmo... Até do meu companheiro, faço um esforço e parece que me esqueço sempre de algum pormenor. Porque é que me esqueço das vossas caras? Por mais que eu olhe, por mais que fique atenta, fica turvo. Eu não devia esquecer-me da tua c...